segunda-feira, 30 de junho de 2008

Lei seca e ameaça totalitária



O viés coletivista imposto ao Brasil em sua história, particularmente nas últimas décadas vem causando mudanças não apenas na estrutura administrativa e econômica do país mas está moldando o modo de pensar e o caráter da população em todos os níveis culturais. Os jornais da semana estão altamente ilustrativos e emblemáticos quanto a isso.

Pois surgiu do limbo uma nova lei que pune com 6 meses a 3 anos de prisão o cidadão que, após beber uma lata de cerveja, for pego conduzindo um automóvel. Uma nova lei que criminalizou, numa só canetada, milhões de pessoas.

Então se tomarmos as estatísticas que mostram pessoas negras e pobres como mais propensas a cometer crimes deveríamos prender todos os negros pobres? Se fica comprovado que metade dos acidentes com mortes envolvem caminhões, proibiríamos os caminhões?

Vamos proibir os carros, afinal, é pela existência deles que há acidentes de trânsito. Proibamos o desejo sexual, pois através dele que ocorrem os estupros, a AIDS.

Pune-se os efeitos e não as causas. Não é o carro, a bebida ou a arma que matam, são as pessoas por trás delas. Deve-se punir a direção ofensiva, imprudente, a conduta criminosa; deve-se diferenciar a atitude responsável da irresponsável.

Essa lei será eficiente para os policiais corruptos, pois compensará ao cidadão pagar 500 reais do que ser enquadrado na lei. Beneficiará o lobby taxista e os que podem pagar um motorista particular.

Num país onde os mensaleiros não foram nem serão punidos, onde seqüestradores e assaltantes de bancos são ministros de estado, onde quem mata, rouba e seqüestra não é punido. E a questão é essa: punição. A aplicação efetiva de leis coerentes.

E a mesma grande mídia que louva ações como essa depois esperneia quando lhes tolhem a liberdade de expressão! Vemos na imprensa a idéia de uma burra unanimidade (desculpem o pleonasmo), de que essa era uma medida imprescindível, que agora sim, o país vai pra frente. Eu pergunto: a que preço?

Em São Paulo as pessoas fazem conversões perigosas, param em fila dupla, trafegam pela contramão, tiram rachas, motoqueiros voam entre os carros, andam pela calçada, e nada disso é punido. Agora quem bebe moderadamente e volta pra casa com responsabilidade será colocado no mesmo cesto que os insanos e criminosos. Quer dizer que dirigir depois de fumar maconha ainda será possível? E cocaína? Há bafômetros para o extasy?

Nos primeiros 10 dias da vigência dessa lei, mais de 300 pessoas foram autuadas e 296 presas, apenas nas rodovias federais, sem contar nas cidades e rodovias estaduais. Quem serão essas pessoas, quais serão suas histórias? Será eu ou você os próximos presos, extorquidos, torturados?

Jordânia, Azerbaijão, Quatar, Emirados Árabes, Algéria, Albânia, Armênia, Colômbia, Croácia, República Checa, Etiópia, Hungria, Nepal, Panamá, Romênia. Todos estes países têm leis semelhantes à nova lei brasileira. Pelo jeito, estamos na direção do progresso.

Acho que deveria ser punido é quem bebe e dirige um país.

Nenhum comentário: