quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O padre e seu correria

Na Folha desta quarta:
Lancelotti já fala em R$ 80 mil; para advogado, era dinheiro de ONG

Em novo depoimento à polícia, o padre Júlio Lancelotti, 64, admitiu ter repassado R$ 80 mil, e não R$ 50 mil, a Anderson Marcos Batista, ex-interno da Febem (atual Fundação Casa).

Padre Júlio afirmou, segundo a polícia, ter dado, de uma só vez, R$ 30 mil a Anderson. A nova informação foi apresentada, diz a polícia, após ele ter sido informado de detalhes da investigação. Os R$ 30 mil, diz o padre, foram usados para dar entrada em uma Pajero. Antes, afirmou que foi o fiador e que pagou oito parcelas de R$ 2.012 do financiamento.

O padre admitiu ter pago a entrada após os delegados informarem que pediram o contrato à concessionária. Procurado pela Folha, o padre disse que não quer mais comentar o caso.Padre Júlio afirma que o ex-interno, que está foragido, ameaçava procurar a imprensa para denunciá-lo por pedofilia e que também fazia ameaças de agressões. Em resposta à denúncia do advogado de Anderson, de que o padre utilizava recursos de ONG para repassar a Batista, a ONG Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto disse que Lancelotti "não tem acesso aos recursos financeiros da entidade".


A verdadeira história de Lancelotti com a Polícia

Padre Júlio Lancelotti, que tem um jeito estranho e caro de “tocar o coração de seus protegidos”, afirma por aí que não recebeu a devida atenção da “polícia de Alckmin” quando “denunciou” as ameaças que dizia sofrer. Acontece que o que este senhor afirma não se escreve. Vejam na nota abaixo. Agora que a polícia decidiu investigar detalhes de sua generosidade, ele diz que doou a seu “correria” de estimação R$ 80 mil, não R$ 50 mil, conforme a acusação inicial: uma pequena elevação de 60%... Também o seu pedido de socorro à Polícia tinha um jeito estranho de ser. Acompanhem o que apurou este blog.

Em outubro de 2004, ele procurou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e disse que estava sendo "incomodado" por um rapaz chamado Anderson. Naquela ocasião, não falou em ameaça ou em extorsão. Nem mesmo entrou em detalhes sobre a natureza do "incômodo". A Secretaria fez o que lhe cabia: encaminhou-o à Delegacia Geral da Polícia Civil de São Paulo.

Na Delegacia Geral, foi informado que existe estado de direito no Brasil e que um órgão público não pode atuar ao arrepio da lei só porque o padre é uma celebridade, certo? Foi informado de que uma investigação sobre Anderson só poderia ter início se ele, Julio Lancellotti, prestasse uma queixa formal contra o rapaz. Aí o coração do padre se enterneceu. Preferiu deixar pra lá.

Dois meses depois, ele estava de volta à Secretaria. Para reclamar de Anderson outra vez. Deve ser o que o padre classifica de percalços imprudentes do amor. De novo, foi encaminhado à Delegacia Geral. E ouviu, pela segunda vez, que era preciso prestar uma queixa, ou a ação da Polícia seria ilegal. Ele voltou a declinar do cálice. Um homem pio e santo. A Polícia estava de mãos atadas. Em briga de padre e seu correria, ninguém mete a colher, certo?

Passaram-se dois anos sem reclamações. Só posso supor que Anderson permitiu que seu coração fosse tocado nesse tempo. Até que o clima de amor cristão azedasse novamente. Aí padre Júlio não quis saber dos civis. Apelou diretamente aos militares. Disse que estava sendo ameaçado, mas por Marcos José de Lima, um viciado que comprava drogas de Anderson.

Os policiais foram atrás de Lima e o prenderam. Dias depois da prisão, o padre voltou a entrar em contato com a PM. Falou que, mesmo da cadeia, Lima continuava a ameaçá-lo por telefone. A polícia deu uma prensa no sujeito — segundo, evidentemente, os rigores dos direitos humanos exigidos por Lancelotti —, e as ligações pararam. No fim do mês passado, o padre recorreu a uma delegacia de polícia para formalizar a denúncia de extorsão.


Roteiro incrível : “amor imprudente”

Foi assim que as coisas aconteceram. E Lancelotti sabe que é verdade. A “polícia de Alckmin”, como ele chama, deu-lhe toda a atenção. Mas nunca conseguiu saber o que o padre esperava dela ao lhe pedir ajuda informal. O que queria? Que os policiais agissem ao arrepio da lei? Que dessem “uma prensa” no seu correria, que ele alimentava a pão-de-ló e Pajero? Que desse um susto no rapaz para que ele parasse de ameaçar o padre influente?


Por que a história acima é importante?

Porque o padre precisa parar de misturar as suas lambanças da vida privada com a sua militância política.

Por conta de seu “amor imprudente”, uma parte do efetivo policial de São Paulo está hoje mobilizado em sua proteção. De maneira vexaminosa, ele tenta misturar a militância ideológica com a sua vida privada para, claro, dizer-se “perseguido”. Em parte, dá resultado. Ele está sendo protegido por boa parte do jornalismo.

A polícia agiu como polícia. Antes e agora. E Lancelotti? Comportou-se como um padre da Igreja Católica Apostólica Romana?

de Reinaldo Azevedo em
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/

Um comentário:

Carlota Joaquina disse...

Se formos analisar as convicções partidárias do tal padre, ele jamais deveria ter procurado a Policia de Alckmin, pois o que ele sempre pregou caiu por água a baixo. Tais apessoas não precisam de uma mãozinha alisando sua cabecinha (mesmo que seje a de baixo)? Então porque não o fez?

Por outro lado, acho que essas passadas de mão na(s) cabecinha(s) acordou um desejo capEtalista sobre o rapaz, sendo este tomado por desejos elitistas de ter carros de luxo... Esse cara é das Zelitis, pois conheço pessoas da classe média que não tem o que ele tem.