quarta-feira, 14 de julho de 2010

Diários de motocicleta da USP

A história é antiga mas vale relembrar - tornou-se um clássico da literatura caricata, desses antológicos.

O fato é que um aluno de filosofia da USP, caricatão, com ligações no SINTUSP, organizou uma excursão ao Forum Social na Venezuela, em 2006. Acontece que o bonitão quis ir de ônibus e calculou a distância e a rota erradas!

A empresa de ônibus até tentou convencer o Che uspiano a utilizar a rota normal, pelo Brasil, mas ele bateu o pé e conseguiu o que queria: uma rota passando por vários países da Am. Latina.

Resultado: chegaram no dia do encerramento, fodidos, sem dinheiro, com caganeira e sem ter como voltar!

O absurdo é que, não sei como, um cargueiro da FAB foi designado para trazê-los de volta (só os alunos progressistas, claro, os motoristas tiveram que voltar pelo Rio Amazonas), assustadinhos e, evidente, bancados pelo orçamento da Aeronáutica!

E a trapalhada não acaba aqui. O tal Werley Torres, o uspiano bolivariano, sumiu do mapa e ficou com parte do dinheiro da excursão!

Resumindo: a empresa capitalista aceitou suas exigências e quebrou seu galho, tomando um grande prejuízo e correndo riscos; quando a coisa apertou eles foram auxiliados com pouso e comida por freiras católicas (que eles tanto detestam) e, no fim, o cara ainda dá balão nos cumpanheiros...

Pois é, gente. Um novo mundo é possível.


Vejam a história completa:


Os spams

A divulgação

Orientações finais

Manchete - Como colocar seu pai numa fria
1/2/2006 13:27:20
(Página 1 de 2)

ESTUDANTE DE FILOSOFIA (PICARETA NAS HORAS VAGAS) QUE FUGIRA DAS AULAS DE GEOGRAFIA E MATEMÁTICA, CALCULOU MAL E DEIXOU 40 PRESOS NA VENEZUELA.


Estava eu e o Tico felizes da vida! Iríamos dar de presente pro meu pai, o Carlão, a viagem ao Fórum Social Mundial. Após procurar, uma vizinha indicara um estudante de filosofia da USP, Werley Torres, que estava organizando uma excursão ao fórum. Fiquei preocupada, a princípio, pois só havia feito contato com o organizador por telefone. E se fosse um picareta? Após o embarque do Carlão e os primeiros contatos telefônicos fiquei aliviada.
Problema: Nas fronteiras, o ônibus fica parado, pedem exigências, etc. Atraso no cronograma.
Problema: Em quito, algum passageiro desavisado toma água (Na América Latina, pedir copo d'água na padaria? Nem pensar - Malditos coliformes & Cia - caganeira, hospedagem num convento, atraso)
Problema: O organizador, talvez tenha calculado errado o tempo - chegada do ônibus no Fórum Social Mundial - no último dia de evento.
Imbecilidade mor: O Sr Werley, néscio de nascença, deve ter fechado o contrato com a empresa de ônibus da seguinte maneira: pegou um mapa mundi, uma régua e um lápis. Traçou linhas de são Paulo até a Venezuela, passando por países da América Latina, multiplicou a metragem, ou "centimetragem" pela escala e..... EUREKA, contratou uma empresa de ônibus por 12 mil km. Porém, em Caracas, já havia dado 10 mil Km.... como fazer com que ônibus faça 2 mil até SP????? Se perguntarem por Sr Werley, ele vai mandar o ônibus ir de ré!!!!
O Valor total da empreitada????? 28 mil, chorando, por que era pra ser 30.
Mas façam as contas: A passagem do Sr Varley e de Sua Namorada, saíram de graça - 42 pessoas ao total - 40 pagantes x 850 reais (valor cobrado pela excursão) = 34000
Olha só..... o que foi feito com os 6 mil que sobrou???????????
Última Notícia: Sr. Werley Torre e sua namorada, Cláudia Santos, fugiram de madrugada, deixando na Venezuela os outros 40 passageiros..... dentre eles, meu pai!!!!
Grande filósofo a Universidade de São Paulo está formando..... filósofo da ação ardilosa, moralmente execrável, filósofo que usa de meios condenáveis para obter vantagem.

Meu pai nunca mais vai aceitar presente meu again.....

(Leandra Fatorelli)


Repercussão

Repercussão II

A HISTÓRIA
(matéria do Estadão)

Diários de uma viagem de ônibus pela América Latina
A aventura dos motoristas que não tiveram o privilégio de serem buscados pela FAB na Venezuela


Quando o ônibus da Arca Turismo chegou à garagem da pequena transportadora em São Bernardo do Campo, na última sexta-feira, após 23 dias na estrada, seus 42 passageiros já desfrutavam do conforto de casa há mais de uma semana. Enquanto os estudantes que contrataram a empresa de fretamento para levá-los à Caracas para o Fórum Social Mundial retornaram ao Brasil em poucas horas de vôo, a bordo de um avião da FAB enviado pelo governo brasileiro para resgatá-los, os três motoristas do veículo não tiveram outra opção para retornar: rodar os mais de cinco mil quilômetros que separam a capital venezuelana da cidade do ABC paulista.

A aventura do grupo ficou conhecida por causa da trapalhada do responsável pelo planejamento da viagem, o estudante de filosofia José Werley Torres, que exigiu da empresa que o ônibus cruzasse Bolívia, Peru, Equador e Colômbia antes de chegar à Venezuela. Ele acreditava que fazendo esse trajeto o grupo chegaria a Caracas cinco dias depois da saída de São Bernardo, no dia 19 de janeiro. Segundo os cálculos do estudante, eles estariam na capital venezuelana para a cerimônia de abertura do Fórum, marcada para o dia 24. Chegaram a tempo de ver apenas o encerramento do evento, dez dias depois do embarque.

Por causa do desgaste dos passageiros com a estafante viagem de ida e o fim do dinheiro da maioria deles para ser usado na volta, uma operação foi montada pela embaixada brasileira para repatriar o grupo. Os motoristas, no entanto, ficaram de fora. Apesar de se tratar de uma aeronave de carga, o Hércules C-130 enviado pela Força Aérea Brasileira não estava preparado para acomodar o Scania branco da empresa de turismo. Depois de alguns dias à espera da resposta do governo brasileiro ao pedido de repatriação, Miguel Serrano, de 69 anos, Alexssandro Oliveira, 31, e Anderson Delabarba, 34, iniciaram a viagem de volta, conduzindo um ônibus vazio e perseguidos por um prejuízo de R$ 12 mil.

Após o desgastante percurso de ida, os três motoristas não tiveram dúvidas em optar pelo caminho que desde o início recomendaram a Torres. Saíram de Caracas em direção a Manaus, um percurso de cerca de 2 mil quilômetros que tomou dois dias inteiros de viagem. A demora, lembram os motoristas, deveu-se principalmente ao trecho entre Boa Vista e a capital do estado do Amazonas, região de reservas indígenas onde não faltam estradas esburacadas e regras de conduta impostas aos viajantes pelos nativos. Há um trecho de 150 quilômetros entre as duas capitais, por exemplo, onde não se podia parar nem tirar fotos.

De Manaus, embarcaram em uma balsa em direção a Belém, de onde seguiriam, via Brasília, para São Paulo.

O fato de terem sido "abandonados" pelo governo brasileiro parece não ter gerado ressentimento nos três, que ainda tiveram que agüentar mais cinco dias e seis noites enclausurados na embarcação, e mais dois dias de estrada até São Bernardo.


Diários de Motocicleta e Central do Brasil

Motorista há mais de 30 anos e dono da Arca Turismo, Seu Miguel não se conforma com a teimosia de Torres, que queria porque queria fazer o percurso pelos países sul-americanos. "Não sei se ele queria chegar ao Fórum ou fazer turismo pela América Latina", disse Doroty Serrano, filha de Seu Miguel que trabalha na administração da empresa de transportes. Segundo o motorista de 69 anos, durante toda a negociação da viagem, ele tentou convencer o estudante de que era mais seguro ir pelo Brasil. Nesse caso, a única dificuldade que enfrentariam seria chegar a Manaus, cidade acessível apenas por vias fluviais. Para resolver o problema, teriam que embarcar em uma balsa em Belém e viajar por cerca de cinco dias por rios da Floresta Amazônica. Mas não adiantou. Torres, que jurava ter checado todas as distâncias, insistiu no percurso, que parecia inspirado na viagem de Che Guevara retratada pelo filme Diários de Motocicleta, de Walter Salles. Para ele, não compensaria perder os cinco dias no roteiro à lá Central do Brasil proposto por Seu Miguel.

"Ele dizia que tinha conhecimento do trajeto, mas não tinha conhecimento nenhum", disse Seu Miguel, que fez Torres assinar um documento se responsabilizando pela decisão de seguir pelos países vizinhos. "No Brasil, nenhuma empresa de turismo tinha feito essa viagem. Não tinha de onde tirar a quilometragem certa", acrescentou.

E foram os contratempos não previstos no "planejamento" de Torres que levaram à demora interminável. Na Bolívia, por exemplo, sacolejaram por 450 quilômetros em uma estrada de terra durante 24 horas. Ao chegar novamente em um trecho de asfalto, Alexssandro não agüentou: desceu do ônibus e correu para se ajoelhar sobre o calçamento. Já na Colômbia, foram impedidos pelo exército de viajar durante a noite devido aos riscos de seqüestros realizados pelas guerrilhas que dominam as selvas do país. Isso sem falar no frio que passaram ao cruzar os Andes. Até folha de coca tiveram que mascar para agüentar as altitudes de mais de 4 mil metros. Para piorar, ainda no Peru receberam a notícia da morte de quatro estudantes mineiros após um acidente com um ônibus brasileiro que fazia o mesmo trajeto.

"Nós ficamos sabendo do acidente na estrada. Eu e o Alex ficamos muito tristes com a notícia", lembra Anderson. Ele conta que o ônibus mineiro, que fazia o mesmo percurso do grupo paulista, sofreu o acidente na região de Arequipa, na Cordilheira dos Andes. "Naquela região é comum você pegar uma camada fina de gelo no asfalto, o que dificulta muito controlar o veículo", continua Anderson. Os sobreviventes do acidente da excursão mineira foram trazidos de volta ao Brasil pelo mesmo avião da FAB que dias depois também buscaria o grupo que chegou à Venezuela.


Cinco dias numa prisão flutuante

Embora presumisse que muitas dificuldades poderiam aparecer durante o percurso, Seu Miguel admite, no entanto, que quando já não havia mais volta, ficou curioso para conhecer o percurso. Alexssandro, um dos motoristas que o acompanhou, provoca, gargalhando: "Foi embarcar na aventura dos ´doidos´ e depois queria desistir". Passada a brincadeira, ele acrescenta: "Em algumas situações, se pudéssemos, teríamos abandonado a ´carga´ e desistido".

Mas Seu Miguel jura que não se arrepende de ter optado por participar da viagem. A única situação da qual reclamou durante toda a conversa que teve com o Portal Estadão.com.br foi os cinco dias e seis noites claustrofóbicas passadas a bordo da balsa que faz o trajeto Manaus-Belém, já na volta a São Bernardo do Campo. A embarcação, que cobra mais de R$ 1,5 mil por veículo, costuma levar cerca de 70 carretas e se desloca a uma média de 15 Km/h, não faz paradas ao longo da viagem. "Aquilo é uma prisão", desabafa Seu Miguel. Ele conta que além da falta do que fazer, uma outra marca da viagem é a péssima comida servida aos passageiros.

Um comentário:

Leandra Fatorelli disse...

Olá,

O ônibus contratado não levava somente "estudantes progressistas assustadinhos". Era a única opção de transporte pro Fórum saindo de São Paulo.

Tinham estudantes de vários lugares (não uspianos) e trabalhadores também (inclusive de outros estados).

Quando soube da situação em que o Werley colocou a todos, escrevi pra alguns veículos de comunicação, principalmente pro Estadão que havia feito a matéria sobre a saída do ônibus.

As diplomacias venezuelana e brasileira se mobilizaram para resolver o problema e foi assim que o avião da FAB foi designado para resgatar os passageiros.