domingo, 9 de agosto de 2009

Lei é lei, já dizia Hitler


O assunto do momento é a tal da nova lei anti-fumo. Com destaque na grande mídia, páginas e páginas nos jornais impressos, valiosos minutos nos televisionados, vemos o povo brasileiro afundar cada vez mais no inferno das boas intenções estatais.
Como em outras ocasiões, a mídia é inundada por "especialistas" citando estatísticas altamente questionáveis, como a de que morrem 200 mil pessoas por ano vítimas do tabagismo. Ora, se as vítimas da violência endêmica que arrebenta a sociedade brasileira, maior de que qualquer nação em guerra, é de 50 mil por ano, um número nefasto de vidas ceifadas e famílias destroçadas, a população ingênua vítima da lavagem cerebral esquerdista conclui que este problema não é tão grave quanto o "fumo passivo", ao mesmo tempo que respiramos um ar poluidíssimo nas grandes cidades.
E essa mesma poluição é causada pelo monopólio estatal nas obras de infra-estrutura, que abandonou as ferrovias, que não fiscaliza veículos sem condições, que extorque o setor produtivo com uma carga tributária altíssima, ao mesmo tempo que isenta veículos antigos, barulhentos, poluidores e inseguros de inspeção e IPVA.
E quando esse mesmo governo incompetente, burro, corrupto e ladrão cria leis e mais leis limitando as liberdades individuais, lá vai o povo brasileiro, com seu pensamento de rebanho, ajudar os próprios carrascos.
Essa situação me fez lembrar dos famigerados "Fiscais do Sarney", da década de 80 - um exército de ingênuas donas-de-casa que vasculhavam os preços dos estabelecimentos para delatá-los caso os preços não fossem os mesmos dos tabelados pelo governo.
O Plano Sarney foi um fracasso, comerciantes foram punidos e o dirigismo econômico se provou mais uma vez danoso. Mas o coletivismo e o povo-gado permanecem. Fico pensando quem eram os inocentes-úteis fiscais do Sarney. Será que eles assumiriam ter sido instrumentos do coronel hoje em dia, ou teriam vergonha? Será que eles contariam para os netos, com orgulho, que foram fiscais do Sarney e ajudaram a delatar e punir centenas de empresários exploradores da mais-valia? Pelo andar da carroça, confesso que acho que sim.
O fato é que esta "nova lei" (ô, termo irritante, veja mais aqui) abre precedentes para anular qualquer autonomia que possamos ter sobre nossas propriedades. O cidadão compra um estabelecimento com o trabalho de décadas, sendo roubado sistematicamente por um estado agigantado , mas não tem autonomia sobre o que pode ou não fazer dentro de seu estabelecimento. Sua propriedade vira uma concessão estatal. Repito: isso é gravíssimo e o precedente já foi aberto.
O mais curioso é que não vemos, na grande mídia, questionamentos a essa lei. Vemos as emissoras e jornalistas selecionarem justamente os cordeiros para suas entrevistas, como uma garota fumante indo, toda sorridente, para fora do bar fumar.
Entrevistam um prestativo rapaz chamado Fernando Lombardi, 22 anos, disposto a delatar eventuais "infrações", que já registrou o número do telefone de denúncias no próprio celular (JT, 08/08/09, p.3A). A versão moderna dos fiscais do Sarney.
Aliás, essa mesma edição do Jornal da Tarde está particularmente interessante. Como o depoimento surreal do jornalista Eduardo Diório, que foi pra "Lôca":

Na noite de quinta para sexta-feira, fui à danceteria A Loca, na Rua Frei Caneca e, logo na entrada, o segurança perguntou se eu era fumante. Ao responder que sim, me mandou para outra fila, em que uma segurança colocou em mim uma pulseira escrito 'fumante', pegou meu maço de cigarros, etiquetou-o com meu nome e o número da comanda e guardou-o numa caixa em que havia uns 40 maços. Depois de 50 minutos, resolvi sair para fumar. Fui barrado pelo chefe de segurança, que disse que eu não podia por conta da grande fila para entrar. Uma hora depois, resolvi tentar novamente. Cerca de 20 pessoas discutiam com o segurança, que continuava impedindo os fumantes de sair. Os clientes ameaçavam chamar a polícia. Depois de muita discussão, ficou acertado que os clientes que quisessem fumar deveriam entrar na fila e pagar a comanda, depois enfrentar a fila para resgatar o maço, entregar a comanda para o chefe de segurança, sair, fumar e, depois, pegar a comanda, passar pela revista do segurança e devolver o cigarro. Na hora de ir embora, o cliente teria de entrar de novo na fila, pagar o que foi consumido após fumar e resgatar o cigarro. Não fiz nada disso: fiquei sem fumar, paguei a comanda e fui embora. A direção da A Loca não foi localizada.

O governo ainda estimula as pessoas a delatarem e, com o problema do barulho nas calçadas, surgido com a lei, orienta ao incomodados que chamem a polícia por "perturbação da ordem pública"! Numa canetada os fumantes viraram criminosos. Quem será o próximo?
Vamos proibir a venda de pizzas, chocolates virão com fotos de gente obesa, proibamos então toda circulação de carros, proibamos as pessoas de sair à noite, certamente as mortes diminuirão. Mas a que preço? Desde quando o estado pode presumir que sabe cuidar mais de mim do que eu mesmo? Quem aceita uma situação dessas é um covarde ou um idiota-útil vítia da lavagem cerebral.
Na minha infância, tinha uma lenda urbana relacionada com o tal do Reverendo Moon, que dizia que ele pegava gente para fazer lavagem cerebral nelas. Eu imaginava uma engenhoca cheia de luzes e botões, onde as pessoas eram colocadas à força e aí acontecia a tal "lavagem cerebral". O que eu não imaginava era que este é u processo muito mais sutil e que boa parte de meus conhecidos e familiares eram vítimas dele.
E quando alguém disser que "lei é lei", pense que os alemães que delatavam e executavam os judeus na Alemanha nazista estavam cumprindo a lei.
Sugiro que já que eles estão incentivando o povo a delatar, sejamos úteis!
Vamos lotar os telefones do governo com denúncias de bares que não respeitam a "nova lei"! Façam o seguinte: procurem (ou inventem) bares em regiões afastadas na periferia, sabem aqueles botecos com mesa de sinuca, onde freqüentam traficantes, homicidas e bêbados? Então, liguem e denunciem, façam a sua parte! Vejam meu exemplo:
Alô, é do disque-denúncia contra o fumo? Gostaria de denunciar o Bar do Tião, na esquina da Travessa do Cachorro Morto com o beco Treze, na favela Pantanal. Lá o pessoal não respeita a nova lei! Eles fumam e jogam sinuca sem punição! É um absurdo!
Mas você tem que ligar várias vezes e cobrar a fiscalização no bar do Tião, insista, exerça seu direito e sua cidadania de delator exemplar!
O telefone é 0800 77 135 41.


PS: Se for para parar de fumar e ficar feio que nem o Serra, prefiro continuar fumando...

2 comentários:

W.NETO disse...

Maravilha de texto! Como diz o meu amigo Jorge Coruja "É isso aí e mais um quilo de farofa"!
Um forte abraço!

Lílian Buzzetto disse...

Caro companheiro fumante,

Adorei seu texto. Muito bem escrito e recheado de bom humor, ironia e, ainda assim, informativo e inteligente. Estou quase começando a acreditar que uma das 4700 substâncias presentes no cigarro estimula o cérebro de alguma maneira. Nem preciso dizer que concordo com o que disse!
Te convido a visitar meu espaço!
PARABÉNS!